Estavam criadas fortes expectativas sobre o poderia acontecer ao plantel do FC Porto até 31 de Agosto. Depois de fechada a 'janela de transferências' iria ficar mais forte ou mais fraco? O balanço é claramente positivo.
O FC Porto é conhecido por comprar barato e vender caro. O FC Porto assenta a sua política em rentabilizar desportiva e financeiramente os seus ‘activos’. Face à vitória na Liga Europa e conquistas nacionais, e também porque André Villas-Boas, como treinador do Chelsea, passou a ter óptima vista para o Dragão, o FC Porto corria o risco de ser sacudido por um ‘sismo de Agosto’. A ‘caixa-forte’ resistiu. O abalo foi pequeno. E o campeão continua a reunir condições para manter a sua dinâmica ganhadora. Ameaçado, agora, e somente, pelo Benfica...
Não podem ser boas as relações entre o FC Porto e André Villas-Boas, pela forma como o ex-técnico dos portistas abandonou a sua ‘cadeira de sonho’.
Os negócios, quando são bons, ultrapassam estas questões de memória. Os líderes não gostam de provar do mesmo veneno que lançam sobre as suas vítimas. O jovem Villas-Boas fez ao veterano Pinto da Costa o que este, com maior ou menor subtileza, costuma fazer àqueles que comanda ou estão na sua mira. Não anunciou a saída, porque se manifestasse, por um instante, a vontade de rumar ao Chelsea já sabia que iria despertar a capacidade de resposta do velho líder e provocar episódios contraproducentes ao objectivo primacial.
Quando um treinador orienta uma equipa vencedora e ruma a outras paragens é natural que queira continuar a trabalhar com alguns dos seus eleitos. Porque já lhes conhece as virtudes, os defeitos e as manhas e não precisa de tempo para aprofundar o conhecimento sobre os futebolistas. Nas questões técnicas e nas questões de perfil pessoal. É natural, portanto, que Villas-Boas gostasse de contar no seu plantel (de estrelas) com alguns dos jogadores com quem foi muito feliz no FC Porto, nomeadamente com Moutinho, Álvaro Pereira e Falcao.
Acredito que estes três estariam no topo de preferências de Villas-Boas e acredito, até, que abaixo das cláusulas de transferência o FC Porto quisesse evitar negociar com o Chelsea, por causa do ‘efeito AVB’.
Não querendo ‘cortar as asas’ a Falcao, o negócio fez-se com o Atlético de Madrid. Digamos que, entre as principais partes interessadas, atingiu-se a satisfação plena: o FC Porto conseguiu um importante encaixe (incluindo o ‘brinde’ Micael); o avançado melhorou as suas condições contratuais e foi jogar para uma Liga importante como é a espanhola e para um clube que perdera Agüero (M. City) e preparava-se para ficar sem Forlán, que entretanto rumou a Milão para alinhar no Inter. Quer dizer: Falcao abdicava de jogar na principal montra do futebol europeu (Liga inglesa) e não tinha de superar a concorrência movida por Anelka (32 anos), Drogba (33) e Fernando Torres (27).
Em suma, o Chelsea seria desportivamente melhor para Falcao (o factor idade concorreria a seu favor...), mas para a operação se realizar sem grandes sobressaltos, e admitindo que para os bluesa contratação de um ponta-de-lança não era um objectivo prioritário, a porta do Atlético de Madrid acabou por ser a ‘porta possível’, embora seja muito difícil entender, no plano profissional, a troca do FC Porto pelo clube colchonero, a não ser por razões de natureza exclusivamente financeira.
Notícias recentes davam conta de que o Chelsea estava disposto a pagar 55M€ por Moutinho e Álvaro Pereira, menos 15M€ relativamente ao produto da soma das duas cláusulas de rescisão (40+30).
O facto de o FC Porto ter adquirido, já em Agosto, 22,5% dos direitos económicos de Moutinho por 4M€ significa que havia ‘mouro na costa’. Isto porque, em Outubro do ano passado, os campeões nacionais tinham alienado 37,5% do passe do internacional português por 4,1M€. O FC Porto não pode deixar de revelar alguns cuidados com a operação de venda de Moutinho, uma vez que, na hora da venda, terá de fazer contas com um Fundo e ainda com o Sporting.
Não foi por acaso certamente que o Chelsea se decidiu, à última hora, por outro... jogador português. Também para o meio-campo: Raul Meireles, ex-Liverpool.
A sensação que se colhe em relação a Moutinho é que, independentemente dos valores e não havendo uma proposta pela cláusula de rescisão (40M€), o jogador aceita, de bom grado, ficar no plantel portista pelo menos mais uma temporada, cujo princípio o FC Porto gosta de salvaguardar perante os seus atletas.
Esse princípio, segundo o representante de Álvaro Pereira, terá sido violado, mas sabe-se como são estas coisas: tudo o que não caia no âmbito das obrigatoriedades contratuais é atirado para o domínio das especulações e de uma certa subjectividade.
Agora é preciso ‘recuperar’ Álvaro Pereira ‘para o FC Porto’, porque é um jogador importante; porque dá profundidade à ala esquerda; e porque pode jogar mais atrás ou mais à frente (como... Coentrão), consoante as necessidades achadas pelo treinador.
Feitas as contas, cumpriu-se aquilo que já escrevera antes do jogo da Supertaça Nacional: não se cumpriu a anunciada ‘sangria’ no plantel do FC Porto (http://relvado.aeiou.pt/rui-santos/ai-esta-liga-2011-12-espera-31-agosto).
Mais: com a venda de Falcao e Micael, o FC Porto consegue pagar Danilo, Alex Sandro, Mangala, Defour, Iturbe, Kelvin e Kléber.
Significa que, desta forma, os novos jogadores encontrarão melhores condições para fazer a sua adaptação ao FC Porto, designadamente os jovens Danilo, Alex Sandro e Iturbe.
O FC Porto era a equipa que corria o risco de se ver mais afectado na sua estabilidade e coesão desportivas. Ficou sem Falcao, é verdade, mas pagou as aquisições e não arriscou ter de fazer, com a época em andamento, uma nova equipa.
Fechada a janela das transferências, pode dizer-se que o FC Porto deu um grande passo para abrir, de novo, a porta do título. Mas, ainda assim, tem de contar com o Benfica, que corre um grande risco ao não ter salvaguardado qualquer situação menos feliz que possa ocorrer com Luisão e Garay...
... E, ao optar por manter Cardozo, o técnico Jorge Jesus vai ter de saber fazer a gestão do balneário em relação ao ‘primeiro suplente’. Saviola... vai ‘aguentar-se’?
Rui Santos
Via Relvado