Olhar para um objecto quando se faz parte desse objecto é um exercício que apresenta uma série de dificuldades. Quando se quer identificar as cores da galáxia onde se vive, a barreira é enorme.
“Não só estamos a olhar para a Via Láctea a partir de dentro, mas a nossa visão é bloqueada pelo pó. Só podemos ver cerca de dois milhares de anos-luz em qualquer direcção”, explicou Jeffrey Newman, durante uma apresentação feita durante o 219ª encontro da Sociedade Americana de Astronomia, citado pela BBC News.
Há galáxias de várias cores. Algumas têm cores azuis, indicando que existem milhões de estrelas a formarem-se neste instante. Outras são vermelhas, e estão envelhecidas, sem estrelas a nascer.
“Para os astrónomos, um dos parâmetros mais importantes é a cor de uma galáxia”, disse Newman à BBC News. “Isso diz-nos basicamente a idade das estrelas da galáxia e até quando é que a galáxia esteve a formar novas estrelas – ainda estão a ser produzidas agora ou nasceram há milhares de milhões de anos?”
Para conseguir identificar a cor da Via Láctea, Jeffrey Newman e o seu estudante Timothy Licquia utilizaram os dados obtidos no projecto Sloan Digital Sky Survey (SDSS). O SDSS rastreou milhões de galáxias com a ajuda do telescópio do observatório Apache Point, instalado no Novo México, EUA.
Com esta informação, analisaram a propriedade de milhões de galáxias e identificaram as que tinham semelhanças com a Via Láctea em relação ao número de estrelas e ao rácio com que novas estrelas estão a ser formadas. O resultado ofereceu um retrato que valida o nome Via Láctea.
“A melhor descrição que posso dar [da cor da Via Láctea] é se olharmos para a neve acabada de cair na Primavera, que tem grãos finos, cerca de uma hora depois do amanhecer ou uma hora antes de o anoitecer, iria ver-se o mesmo espectro de luz que um astrónomo alienígena de outra galáxia veria, se olhasse para a Via Láctea”, explicou Newman à BBC News.
E em termos astronómicos, que significado tem uma galáxia já ter uma cor parecida com o leite? É uma galáxia que ainda produz estrelas mas está “a terminar esse processo”, explicou o cientista. “Daqui a uns milhares de milhões de anos irá ser um local aborrecido, cheio de estrelas de meia-idade a usar o seu combustível e a morrer, mas sem novas estrelas a serem formadas.”
Via Público