
Alguns dos melhores "sommeliers" do mundo estiveram três dias no Norte para provar e falar sobre os vinhos portugueses. Um dos pontos altos foi o jantar de gala na Quinta do Noval, com "smoking" e barbatanas e grandes vintages, incluindo o Noval Nacional 1963. Pedro Garcias participou nesse momento único em que se provou um vinho que custa 5570 euros cada garrafa.
Dia 13 de Novembro. A noite promete na Quinta do Noval, anfitriã de um grupo muito especial e influente, os Mad Wine Lovers Of The World. Daquela propriedade do Douro têm saído alguns dos melhores vinhos portugueses de sempre. Um deles, o Porto Vintage Noval Nacional 1931, foi considerado pela revista Wine Spectator como o segundo melhor vinho do mundo do século XX. Não devem existir mais do que umas poucas dezenas de garrafas espalhadas por alguns coleccionadores. Há uns anos, provar uma dessas garrafas ainda continuava a ser a ambição da vida de Christian Seely, o director geral da Axa Millésime, proprietária da Quinta do Noval. Não sabemos se já a cumpriu.
A mesa já está posta quando os sommeliers começam a chegar impecavelmente vestidos de smoking e caminhando como pinguins. Ao segundo dia da excursão a Portugal, preparam-se para o seu tradicional jantar de gala. As barbatanas que todos trazem calçadas mostram o lado “louco” do grupo. Depois de quase um ano a sugerir e a provar diariamente dezenas ou centenas de vinhos, alguns dos melhores sommeliers do mundo viajam até um país vitícola para conhecer novos vinhos, revisitar outros e comer e beber quase sem regra (este ano, o grupo escolheu Portugal). Só param tombados pelo sono e pelo cansaço de tanto rir com as histórias, as cantorias, os discursos humorados e as “palhaçadas” — daí o nome Mad Wine Lovers Of The World.
São cerca de uma dúzia de sommeliers reputadíssimos e com grande poder e influência no negócio do vinho. Um deles, o francês Olivier Poussier, responsável pelos vinhos do grupo Lenôtre, ostenta o título de MelhorSommelier do Mundo, obtido em 2001, no Canadá. E outros três já venceram o concurso de Melhor Sommelier da Europa: o alemão Bernard Kreis e os franceses Eric Duret e Eric Beaumard. Este, actual director do Restaurante Georges V, no Hotel Four Seasons, em Paris, também já foi vice-campeão do mundo. Do grupo faz parte também João Pires, o único master sommelierportuguês e considerado um dos melhores do mundo da actualidade.
Ninguém sabe que vinhos vai servir Corine, funcionária da Axa Millésime e também ela sommelier. O Noval Nacional 1931 não será, obviamente. O Noval não Nacional do mesmo ano, que dizem não ser inferior, também estará interdito. E o Noval Nacional 1963, talvez a mais lendária colheita de Porto Vintage, não passa de um sonho. Pelo menos, para nós. Cada garrafa custa na loja de Gaia da Noval 5570 euros! É um daqueles vinhos para beber como último desejo. Sobra a expectativa, suficientemente empolgante, de se provar algum Colheita histórico (Porto Tawny de uma só colheita envelhecido em cascos por um período mínimo de sete anos) ou um outro grande Noval Nacional (exclusivo vintage que a quinta produz a partir de uma vinha velha de dois hectares plantada com videiras não enxertadas).
Via Público
Três vinhos portugueses foram eleitos para o grupo dos 25 melhores a nível mundial pela revista especializada Decanter, que anunciou na quarta-feira à noite os vencedores dos Prémios Mundiais do Vinho.
O Bacalhoa Moscatel 2004 foi eleito o melhor vinho licoroso a menos de 10 libras (11 euros), o Tagus Creek Shiraz e Trincadeira 2010 o melhor tinto de mistura a menos de 10 libras e o Madeira Verdelho Henriques & Henriques 15 anos o melhor vinho licoroso a mais de 10 libras.
Sarah Amed, crítica de vinhos que recebeu em nome da Falua, confiou à Lusa que os júris “ficaram encantados” com o Tagus Creek, por ser “muito fresco e aromático e [possuir] carácter para um vinho deste preço”.
Hugo Campbell, importador e director da Ehrmanns wines, explicou que o “estilo português de moscatel está tornar-se mais conhecido [no mercado britânico] pela elevada relação qualidade-preço”, como o Bacalhoa, que custa cerca de nove libras (10 euros), “tendo em conta que estes vinhos são envelhecidos cerca de seis anos”.
Para Humberto Jardim, administrador, este é mais um prémio internacional para os vinhos da Henriques & Henriques, produtor de vinho da madeira que já tinha sido galardoado há dois anos pela Decanter, algo que admite ser “benéfico” para as vendas, embora não tenha quantificado.
Este ano, Portugal igualou a França, país tradicionalmente reconhecido pelos seus vinhos, no número de prémios internacionais e ultrapassou-a no total de medalhas atribuídas este ano.
O júri da Decanter avaliou no total 12 254 candidatos, dos quais 237 foram distinguidos com medalhas de ouro e 118 receberam troféus regionais.
Na lista dos vencedores internacionais estão também vinhos franceses, italianos, espanhóis, neo-zelandeses, argentinos e, surpreendentemente, um chinês, vencedor do prémio internacional de tinto varietal Bordéus a mais de 10 libras.
França foi o país produtor com maior número de prémios e Espanha concorreu com o maior número de vinhos (1200), que receberam um recorde nacional de medalhas e distinções (828).
Mas a Decanter afirma que “o país para o qual os consumidores e especialistas devem estar atentos é Portugal, que ganhou prémios para mais de 84 por cento dos candidatos, incluindo três troféus internacionais”.
Os vencedores dos prémios partem agora em digressão por uma série de provas de vinho em 21 países, incluindo o Brasil, EUA, França, China e Rússia.
Ganham também o direito de usar para efeitos promocionais o prémio e um autocolante nas garrafas com um D dourado correspondente à distinção feita pela Decanter, cujo efeito nas vendas é substancial.
Hugo Campbell revelou à Lusa que uma recomendação como esta pode impulsionar as vendas em “30 a 40 por cento”.
A Decanter é uma revista especializada em vinhos com milhares de leitores em mais de 150 países, tendo lançado estes prémios internacionais em 2004.
Via Público
Vivemos no país com mais variedade de castas autóctones, são cerca de 250 e já estão a ser desenvolvidos estudos que podem vir a descobrir mais. «Acredito que há várias dezenas que não estão ainda referenciadas, só nos últimos anos descobrimos mais cinco variedades de castas», afirma ao SOL Antero Martins, professor do Instituto Superior de Agronomia e coordenador da Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira (Porvid).
Existem quase três vezes mais variedades de castas do que em Itália e seis vezes mais do que em Espanha e em França. Esta constatação constitui uma vantagem competitiva para o sector vitivinícola e ajuda a desmistificar a crença de que as videiras foram trazidas do Oriente. Afinal, nasceram cá e não vieram com os mercadores fenícios, como se pensava até agora.
«As nossas castas, além de serem as mais numerosas da Europa, são quase todas exclusivas», garante o especialista. Há alguma sobreposição com Espanha, em especial, nas zonas fronteiriças, mas os trabalhos da Porvid provaram que não há vestígios das nossas castas no Oriente, nem sequer no caminho até à Península Ibérica.
Através de técnicas sofisticadas consegue-se olhar para o passado das castas e comprovar que existe uma maior parecença genética entre as autóctones e as silvestres de uma determinada região, em comparação com castas e plantas silvestres de regiões distintas.
Para Antero Martins a diversidade de castas só enriquece o mercado do vinho, considerado um dos produtos mais emblemáticos do país. No entanto, mais importante do que a variedade das castas são as diferenças dentro das próprias castas. Estas são «difíceis de ver a olho nu e estão em risco de acabar», alerta. Se nada for feito «em 2020, pode perder-se toda a diversidade genética (mutações naturais) de cada casta e, como consequência, a possibilidade de fazer diferentes vinhos».
Até meados dos anos 80, a situação era propícia à conservação da variabilidade, mas quando os vitivinicultores deixaram de ser, eles próprios, os enxertistas e passaram a comprar as plantas nos viveiros, as amostras de videira homogeneizaram-se. «Todos os agricultores acabam por adquirir material igual», afirma Antero Martins, para quem esta é uma «consequência perversa do progresso».
A Porvid surge como uma plataforma de esforços – públicos e privados – para evitar esta perda. O trabalho começa por ‘varrer’ o território e colher amostras que sejam representativas da variedade, dentro de cada casta autóctone, e plantá-las num pólo experimental em Pegões, cedido pelo Estado.
Características como a quantidade de açúcar, a acidez do mosto ou os pigmentos são avaliadas e comparadas. «Explorar estas diferenças pode servir para aumentar cinco vezes o rendimento de determinada casta», sublinha. O teor alcoólico é outro dos factores que pode ser manipulado naturalmente apenas com base na variabilidade da videira.
Via Sol