A moda pegou e ter peças “retro” no armário é um “must have”. Três proprietários de lojas em segunda mão desmistificaram algumas ideias associadas a este comércio. Primeiro, o preconceito em adquirir peças que já foram vestidas por outras pessoas é praticamente inexistente. Segundo, não são maioritariamente as mulheres a procurar roupa usada. E, por último, que se esqueça a ideia de que estas lojas são procuradas só pelos preços baixos.
A Zack, na Rua Oliveira Monteiro, no Porto, foi uma das primeiras lojas no Porto a misturar roupa em primeira e segunda mão. Fátima Leite, a sua proprietária, revela que a experiência com esta loja a fez perceber que a roupa em segunda mão podia ter futuro. Assim, juntando o útil ao agradável, abriu aRosa Chock, uma loja apenas com artigos usados num espaço onde até a renda fica mais em conta.
Quem desce a Rua do Almada facilmente a distingue: nas janelas, um amontoado colorido e confuso e brinquedos e acessórios, não passa despercebido aos transeuntes. Com uma campanha permanente “Duas peças por cinco euros”, Fátima garante ter um negócio de sucesso: “Os meus clientes podem comprar marcas caras e em primeira mão, mas preferem vir aqui”.
Quando o “lixo” é "vintage"
No universo da roupa em segunda mão, as lojas "vintage" são a coqueluche. A Trash Vintage - que há quase um ano ocupa alguns dos muitos metros quadrados do Centro Comercial Bombarda (CCB) - é procurada tanto por mulheres como por homens mas, curiosamente, são estes últimos os clientes mais frequentes. Compram camisas ou blazers de corte "retro" e, de preferência, com padrões axadrezados ou floridos, refere Cidália Fernandes, colaboradora na loja. Para além disso, os kilts têm-se vendido muito, coisa que tem surpreendido Artur Mendanha, o dono.
Artur admite que há peças de valor mais elevado, mas o conceito não deve ser esse. As lojas em segunda mão devem vender “pechinchas”, principalmente em Portugal: “Vivemos num país pobre, onde os ordenados são baixos. Se eu vou a Paris e compro vestidos a dez euros, por que é que hei-de comprar vestidos cá a 40 euros em segunda mão?”
O proprietário não esquece a satisfação que sentiu no dia em que comprou uma colecção inteira de Luís Buchinho por quase nada. A roupa, usada num desfile, “estava numa loja dentro um caixote e ali ficou”, à mercê de quem a quisesse arrematar.
Chanel, Hermés e... Harry Potter
Há cinco anos, também no CCB, Rosário Távora abriu a Zareca’s Story. Numa primeira fase, Rosário foi preenchendo a loja com coisas que “encontrava no sotão”. Nessa altura, conseguia artigos "vintage". Hoje em dia, tem à venda artigos de várias épocas, a maior parte à consignação.
Os preços, diz, variam muito. Dos três aos 300 euros é possível encontrar anéis, óculos de sol, lenços Hermés, carteiras Chanel, casacos de pele ou mantas com o famoso feitiçeiro de Hogwarts. Um lenço Hermés pode custar 150 euros, mas Rosário não tem dúvidas: “As coisas boas vendem-se sempre”, conclui.
Em Lisboa, a moda "vintage" também dispõe de vários espaços. É o caso da loja El Dorado, da A Outra Face da Lua, na Baixa, ou da Be Vintage, no Campo de Ourique (vê moradas à esquerda).
Via P3
Dia 13 de Novembro. A noite promete na Quinta do Noval, anfitriã de um grupo muito especial e influente, os Mad Wine Lovers Of The World. Daquela propriedade do Douro têm saído alguns dos melhores vinhos portugueses de sempre. Um deles, o Porto Vintage Noval Nacional 1931, foi considerado pela revista Wine Spectator como o segundo melhor vinho do mundo do século XX. Não devem existir mais do que umas poucas dezenas de garrafas espalhadas por alguns coleccionadores. Há uns anos, provar uma dessas garrafas ainda continuava a ser a ambição da vida de Christian Seely, o director geral da Axa Millésime, proprietária da Quinta do Noval. Não sabemos se já a cumpriu.
A mesa já está posta quando os sommeliers começam a chegar impecavelmente vestidos de smoking e caminhando como pinguins. Ao segundo dia da excursão a Portugal, preparam-se para o seu tradicional jantar de gala. As barbatanas que todos trazem calçadas mostram o lado “louco” do grupo. Depois de quase um ano a sugerir e a provar diariamente dezenas ou centenas de vinhos, alguns dos melhores sommeliers do mundo viajam até um país vitícola para conhecer novos vinhos, revisitar outros e comer e beber quase sem regra (este ano, o grupo escolheu Portugal). Só param tombados pelo sono e pelo cansaço de tanto rir com as histórias, as cantorias, os discursos humorados e as “palhaçadas” — daí o nome Mad Wine Lovers Of The World.
São cerca de uma dúzia de sommeliers reputadíssimos e com grande poder e influência no negócio do vinho. Um deles, o francês Olivier Poussier, responsável pelos vinhos do grupo Lenôtre, ostenta o título de MelhorSommelier do Mundo, obtido em 2001, no Canadá. E outros três já venceram o concurso de Melhor Sommelier da Europa: o alemão Bernard Kreis e os franceses Eric Duret e Eric Beaumard. Este, actual director do Restaurante Georges V, no Hotel Four Seasons, em Paris, também já foi vice-campeão do mundo. Do grupo faz parte também João Pires, o único master sommelierportuguês e considerado um dos melhores do mundo da actualidade.
Ninguém sabe que vinhos vai servir Corine, funcionária da Axa Millésime e também ela sommelier. O Noval Nacional 1931 não será, obviamente. O Noval não Nacional do mesmo ano, que dizem não ser inferior, também estará interdito. E o Noval Nacional 1963, talvez a mais lendária colheita de Porto Vintage, não passa de um sonho. Pelo menos, para nós. Cada garrafa custa na loja de Gaia da Noval 5570 euros! É um daqueles vinhos para beber como último desejo. Sobra a expectativa, suficientemente empolgante, de se provar algum Colheita histórico (Porto Tawny de uma só colheita envelhecido em cascos por um período mínimo de sete anos) ou um outro grande Noval Nacional (exclusivo vintage que a quinta produz a partir de uma vinha velha de dois hectares plantada com videiras não enxertadas).
Via Público